Veneza é a cidade dos sonhos de muita gente. Também era a minha. Por isso, quando bati o martelo que Veneza estaria no roteiro da minha próxima viagem, quis que esses dias por lá fossem perfeitos. Pesquisei muito sobre os detalhes da cidade, mas queria mais. Queria passar por vielas escondidas, conhecer histórias que não encontramos em qualquer lugar, queria aquela dica especial de um restaurante ou osteria que só quem vive por lá poderia dar. Por isso tudo eu decidi fazer o passeio guiado com a Isabela Discacciati, do blog Italia Per Amore.
A Isa é brasileira, de BH, e vive em Treviso, na região do Vêneto, bem pertinho de Veneza. Eu já acompanhava o Italia Per Amore, seguia no instagram e no snapchat e amava os videos que a Isa fazia de Veneza, quando tinha passeio guiado por lá! Entrei em contato com ela para contratar o passeio e no dia combinado, nos encontramos pela manhã para começar nossas andanças pela cidade.
Escolhi fazer o Passeio Veneza Essencial – São Marcos e Rialto, com duração de 3 horas. Foi um dia super agradável! A Isa é um amor, e conta as histórias da cidade de forma tão leve e ao mesmo tempo com tantos detalhes, que prendeu nossa atenção durante todo o tempo!
Esses são os pontos que passamos durante o passeio: Praça São Marcos (descrição dos monumentos – parte externa): Basílica de São Marcos, Palazzo Ducale, Ponte dos Suspiros, Procuradorias Nova e Velha, Torre do Relógio. Escadaria Bovolo, o misterioso palácio com a escada em forma de caracol. Rialto, o secular coração comercial da cidade e seu mercado de frutas, verduras, legumes e peixe, Ponte de Rialto. Parada opcional em uma típica osteria para degustar um famoso cichetti (petisco) acompanhado de cálice de vinho.
Durante esse trajeto, passamos por vários outros pontos importantes da cidade, que marquei no mapa abaixo.
O que eu aprendi no Tour Guiado em Veneza
Sobre Veneza
Como todo mundo sabe, Veneza é uma cidade que foi construída em cima da água. Encontraram uma substância abaixo da água, parecida com uma argila, e começaram a fincar troncos de madeira, tijolos e pedra de istria, uma pedra porosa que vinha da Croácia. Essa estrutura que foi criada é tão forte, que até hoje mantém a cidade e todas as suas construções em pé.
Hoje, a cidade sofre com um fenômeno chamado maré alta, que acontece de outubro a abril, por causa do vento que sopra do mar Adriático e da maré astronômica. Esse fenômeno faz com que a praça São Marco fique alagada, pois é a parte mais baixa da cidade. Nós não tivemos o (des) prazer de ver esse fenômeno, pois estivemos lá em agosto.
Muita gente não sabe, mas os grandes navios de cruzeiro também são uma grande ameaça para a maré alta. Eles praticamente engolem a cidade, de tão grandes. E como estudamos na escola, dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, então, quando chega um navio enorme, a água tem que ir pra algum lugar para dar espaço ao navio. E adivinha pra onde a água vai? Pra cidade, claro.
Sobre a população de Veneza: Veneza possuiu hoje em torno de 54 mil habitantes. Nos anos 70 eram 174 mil. Existe uma estimativa que mostra que a população de Veneza diminuiu 2 mil habitantes a cada ano.
Nosso passeio começou na Ponte Rialto, pois estávamos hospedados em um apartamento ali pertinho, na Calle de la Donzella. A Isa foi nos contando várias histórias e curiosidades muito legais que não tinha lido em nenhum lugar! Do alto da Ponte Rialto, ela contou histórias sobre duas pontes importantes em Veneza.
Ponte Rialto
É uma das 4 pontes que liga as duas margens do Canal Grande. Era antigamente feita de uma fileira de barcos. Depois construíram uma ponte de madeira, que pegou fogo. O último acidente com a Ponte Rialto foi durante um cortejo de uma Marquesa. A Ponte ficou lotada para ver o cortejo e desabou! Depois disso, criaram um concurso para construir uma ponte definitiva. Nomes como Michelângelo apresentaram projetos da ponte, mas quem ganhou foi um funcionário do governo (Antônio da Ponte) que era arquiteto. A ponte definitiva foi inaugurada 1581 e em 2016 passou por um restauro.
Ponte Rialto
Ponte della Costituzione (Ponte do Calatrava)
Uma das pontes mais famosas de Veneza é a ponte projetada por Calatrava, o famoso arquiteto que projetou, entre tantas obras, o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. No tour nós não passamos por ela, mas por ser um ponto importante da cidade, ela foi lembrada e citada durante nossas andanças. Ela é famosa por ser uma ponte polêmica. Os venezianos não gostam dessa construção. É cheia de erros estruturais, tem degraus, não é acessível a cadeirantes e a pessoas com carrinhos de bebê. Os degraus são de vidro e quando chove fica muito lisa e escorregadia. Além disso tudo, foi uma construção superfaturada e envolvida em corrupção.
A polêmica ponte Ponte do Calatrava
Ainda na região de Rialto, passeamos pela área do Mercado Rialto e ouvimos histórias sobre esse comércio secular, e outras histórias muito interessante sobre o que acontecia nessa área da cidade há muitos anos.
Coluna do Comendador
Era uma coluna onde um representante do governo ficava em cima lendo as leis e resoluções da República, além de declarar os navios que partiam e chegavam.
Escultura do Corcunda de Rialto
Quando acusavam alguém de roubo, o ladrão era condenado na Praça São Marcos e chicoteado até Rialto, onde finalizava a penitência com um beijo na estátua do corcunda, que ganhou tanto beijo que desgastou. Com isso, os ladrões passaram a ter que beijar a cruz.
Coluna do Comendador e Corcunda
Mercado do Peixe
O mercado de peixe em Veneza era um comércio muito tradicional. A profissão de vendedor de peixes passava de pai pra filho. O que eu achei mais interessante, e que jamais saberia se não tivesse feito o passeio com a Isa, é que na parede tem um desenho mais fundo, no formato de peixe e ostra que serviam como medida. Aquele era o tamanho mínimo para os peixes poderem ser vendidos. Eu passaria por ali mil vezes sem notar esse pequeno detalhe super interessante desse período. No século XX o mercado de peixe foi reconstruído. pois o sal do mar corroeu a estrutura.
Mercado de Peixes
Reparem nos desenhos desta coluna em formato de peixe e ostra.
As laterais do mercado eram antiga hospedarias. Hoje são bares onde os venezianos e turistas aproveitam para tomar seu café da manhã acompanhando de um cálice de vinho ou spritz, claro!
O mercado antigamente era altamente setorizado e por isso existe até hoje placas indicando o que era vendido naquela região do Mercado de Rialto.
Spritz a beira do Canal de Veneza
Becos de Veneza
Andamos por uns bequinhos de Rialto e nos deparamos com a linda vista do Cá Doro, na outra margem do canal.
Cá D`oro
É um palácio nobre, construído no século XV em estilo gótico veneziano e onde hoje funciona uma galeria de arte veneziana.
Fondaco dei Tedechi
Ali perto está a Fondaco dei Tedeschi, um palácio onde ficavam os comerciantes que vinham do norte. Em 1797, quando Napoleão chegou em Veneza, o edifício foi desativado e virou sede dos correios. Hoje o prédio pertence a Benetton, que construiu um grande shopping de luxo. Eu já tinha lido algo sobre o shopping, mas como não tinha interesse em compras, muito menos de luxo, não pensei em incluir no roteiro. Mas a Isa nos deu uma dica ótima: é possível subir no terraço e ter uma vista 360º da cidade, de graça! Deixamos pra subir lá após o nosso tour e adoramos a experiência. A entrada não é muito fácil de achar. Fica meio camuflada em um dos lados do prédio com um segurança da frente. Ficamos na dúvida se podíamos ou não entrar ali. Mas entramos e demos de cara com um lindo shopping! Pegamos o elevador até o último andar. Antes de ir pro terraço passamos por um grande salão com uma exposição. E as portas desse salão que dão no terraço. Vale a pena essa parada!
Shopping de Luxo, Fondaco dei Tedeschi
Terraço Fondaco dei Tedeschi
Do alto da Fondaco d ei Tedeschi
Continuando nosso tour pela cidade, passamos no corredor que fica em baixo da Ponte Rialto, no lado de Rialto, onde tem a loja dos Gondoleiros, Emilio Ceccato. A Isa nos chamou atenção para os afrescos pintados no teto desse corredor e nos contou uma história interessante: antigamente Veneza sofria uma epidemia de Peste, então passavam cal em tudo para desinfetar. Esses afrescos estavam escondidos por baixo da cal e só foram encontrados recentemente, em 1996!
Reparem no teto pintado com cal
Afrescos descobertos recentemente
Passamos pelo Campo San Bartolomeo, a praça mais central de Veneza, e seguimos para a Scala Bovolo, um segredo escondido da cidade.
Campo – Praça
Scala Contarini Bovolo
Esse prédio com uma escada em espiral é uma jóia arquitetônica de Veneza. Uma mulher chamada Caterina Morosini se casou com Zuane Contarinie, que era de uma família nobre da cidade. Em 1400 mandaram construir a escada anexa ao prédio, para demostrar poder frente a outras famílias. A escada tem 26 metros no total, o que é considerado bem alto para os padrões de Veneza. Vale a pena pagar €7 para subir e ter a vista panorâmica dos telhadinhos da cidade e de construções importantes, como a cúpula da Basílica de São Marcos e campanário de várias igrejas.
A gôndola tem 11 metros de comprimento e é feita com vários tipos de madeira. O trabalho é bem detalhado e preciso, por isso, leva-se muito tempo para uma gôndola ficar pronta. Por esse motivo, as lojas de gôndola ganham mais para restaurar do que para fazer uma gôndola nova.
Embora seja uma “simples” gôndola, saiba que ela é cheia de significados. A parte de metal na ponta traseira das gôndolas simboliza o chapéu do Dodge, o governador da república. O arco representa a ponte Rialto. As hastes representam os sestieres (bairros) e a haste que sobra pro lado representa Giudecca, um pequeno arquipélago ao sul do centro de Veneza.
Simbologia das Gôndolas
Veja o detalhe de metal na ponta da gôndola
A profissão de gondoleiro antigamente passava de pai pra filho. Mas hoje existe um concurso com prova de idioma e prática de remo para quem quer pilotar as gôndolas na cidade.
Gôndolas e canais de Veneza
Campos
As praças de Veneza são chamadas de campos. Os campos era onde os moradores se encontravam. Em vários campos que passarem vocês verão um poço, de onde vinha a água, pois não tinha água potável na cidade.
Hoje o sistema é de aqueduto e abastece a cidade toda. Os poços foram fechados mas foram mantidos nos campos.
Campo em Veneza
Poço de Veneza
Teatro de La Fenice
Passamos na frente do Teatro de La Fenice, um teatro que foi reformado por Napoleão. Em 1936 ele pegou fogo. Já em 1996, ele estava em reforma e pegou fogo novamente. Descobriram que o incêndio foi intencional. Os eletricistas estavam atrasados com a obra e iam pagar multa por conta do atraso, então forjaram o incêndio para que a obra atrasasse “sem ser culpa deles”. Porém o incêndio foi maior do que o previsto por eles e destruiu completamente o Teatro, que foi reinaugurado somente em 2003, depois de um grande trabalho de restauro.
Do Teatro de La Fenice seguimos pelas ruelas e saímos em um beco que dá para a ponta de La Dogana, no bairro Dorsoduro, do outro lado do Canal. É lá que está a Igreja Santa Maria della Salute
Igreja Santa Maria della Salute
Essa igreja barroca foi construída no século XVII. O Dodge prometeu construir uma igreja se a Peste fosse dizimada. Com o fim da Peste, construíram essa igreja em agradecimento à Madona, em um lugar estratégico e no formato octogonal, pois reza a lenda que o 8 representa o que vai da reza para o céu.
Ca D`Oro
Seguimos o passeio até a praça San Marco e chegamos pela entrada que fica abaixo do Museu Correr. Segundo a Isa, é o lugar mais impactante para ver a praça San Marco pela primeira vez. E realmente desse ponto é possível ver a praça toda, com a catedral e o campanário na frente. É demais!
Praça San Marco
Piazza San Marco
São Marcos pregava em Veneza e uma das vezes que ele estava na cidade sonhou com um anjo, em forma de leão, que disse que ele iria encontrar o repouso eterno em Veneza. Quando ele foi pra Alexandria, foi morto pelos turcos, e em 828 o Dodge trouxe o corpo de São Marcos roubado de uma igreja que seria demolida para construção de uma mesquita.